terça-feira, 25 de setembro de 2012

“Prevenir, acolher, recuperar para a vida: eis a nossa missão”


     
No início de setembro, o Instituto Nacional de Pesquisa de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD), da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), divulgou que o Brasil é o maior mercado mundial do crack e o segundo maior de cocaína. A questão das drogas, sobretudo entre os jovens, vem mobilizando há tempos os diversos setores da Igreja no Rio de Janeiro, mas ganha um olhar especial neste período que antecede a Jornada Mundial da Juventude (JMJ Rio2013), já que a peregrinação deixará um legado social para a cidade.

No último dia 18 de setembro, durante a reunião semanal do governo diocesano, no Edifício João Paulo II, na Glória, o Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, os bispos auxiliares e os vigários episcopais participaram da apresentação do “Relatório de pesquisa de campo sobre jovens em situação de rua vulneráveis às drogas ilegais”, de autoria do professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Dário de Sousa e Silva Filho, realizada nos bairros de Cascadura e Madureira, no mês de julho, com o apoio da empresa Wilson, Sons.

Com o objetivo de subsidiar a implementação do projeto “Passaporte da Cidadania” e coletar informações úteis à intervenção, através de entrevistas com jovens de até 24 anos de idade usuários e também não usuários de crack e drogas, a pesquisa mostrou que os entrevistados sustentam que de maneira implícita o Estado aprendeu a lidar com o desvio da norma da forma politicamente mais segura para os governantes: disciplinando os espaços e horários em que o consumo de drogas ocorre.

O Vigário Episcopal para a Caridade Social, Cônego Manuel Manangão, destacou que a pesquisa foi realizada em algumas cracolândias, com o objetivo de tentar encontrar o perfil das pessoas que estão vivendo hoje em dia às margens dessa realidade, buscando perceber quais são as suas dinâmicas de vida, de que maneira elas se sustentam, como estão vivendo e quais são as perspectivas que elas têm para o futuro. Na verdade, tentar encontrar os caminhos que os cristãos, numa ação de Igreja, podem tomar diante dessa situação.

 — Na medida em que nós formos nos aproximando dessas pessoas e oferecermos a elas um outro caminho, a dignidade da pessoa humana certamente vai despontar. Todos aqueles que foram entrevistados têm um certo respeito e reconhecem a presença e o valor da religiosidade.

A sensação que me dá é que quando qualquer instituição, do ponto de vista religioso, se aproxima desses jovens, eles ouvem com mais facilidade. A minha leitura pelo que o pesquisador levantou é uma abertura mais “descontraída”, pois eles se colocam mais à vontade para falar dos seus anseios, das suas angústias, dos motivos que os levaram a viver aquela experiência e, ao mesmo tempo, colocam algumas questões críticas no que diz respeito aos órgãos públicos.

Dois fatos de grande importância para a Igreja, e que precisam ser observados com muito cuidado, é a existência de uma geração muito jovem que já tem filhos e a denúncia dos entrevistados com relação à assimilação da realidade do poder público como uma identificação de violência, no sentido de não oferecer caminhos alternativos para uma nova vida.

— Antigamente havia pessoas que iam para o mundo das drogas e perdiam a relação com os pais, e o estudo atual mostra que o medo, hoje em dia, é o de perder a relação com os filhos, tendo em vista que muitos desses jovens já são pais. Eles não quererem perder essa relação de proximidade com os filhos, o que normalmente acontece por conta das drogas. Eles falaram muito da presença do poder público, mais no sentido de violência, e uma coisa que, de certa maneira é uma denúncia bastante forte, é a questão da presença das drogas em muitas das instituições que teriam a missão de trabalhar na prevenção desse uso. Abrigos e locais de tratamento são citados como locais onde a facilidade de conseguir a droga se faz presente e, por isso, muitos deles permanecem lá por conta dessas facilidades, revelou Cônego Manangão.

O Cônego destacou ainda que, após a apresentação da pesquisa, o governo diocesano começou a fortalecer ainda mais a ideia de que o primeiro passo a ser dado é ir ao encontro desses usuários de drogas, tentando escutar o que eles têm a dizer e, a partir daí, descobrir, dentro da realidade da fé católica, tudo aquilo que diz respeito ao sentido, à valorização e à dignidade da pessoa, como forma de apresentar para eles uma nova vida, um novo jeito de viver.

— É interessante observar na pesquisa que eles sempre se colocavam numa perspectiva de não querer permanecer nesta realidade. Na maioria daqueles que foram entrevistados havia um sonho: o desejo de não permanecer dentro desse mundo, enfatizou.
Cônego Manangão falou sobre os passos a serem dados com os levantamentos obtidos pela pesquisa.

— Durante a reunião com o governo diocesano destaquei que as regiões onde existem as cracolândias são territórios paroquiais com Capelas e Igrejas e que precisamos dar maior visibilidade aos trabalhos que já estão sendo realizados. (...) Não tem como resolver esse problema se olharmos apenas um aspecto. Teremos que olhar o aspecto da família, da dependência química, da legislação que envolve toda essa realidade do menor e do adolescente em situação de risco, entre outras questões. Enquanto Igreja, nós temos, naturalmente, uma grande capilaridade, não só pelas pastorais que vão atender as várias nuances da realidade da vida, seja religiosa ou social, mas também porque percebemos que o trabalho é feito numa rede mais ampla, que não envolve só a rede católica, mas outros setores e organismos da sociedade, inclusive, os próprios meios políticos de uma prevenção de saúde pública e todas as questões ligadas às diversas secretarias, afirmou o Vigário Episcopal para a Caridade Social.

"Precisamos ser, para eles, farol da esperança. Este será o nosso desafio e o nosso legado"
Em 1955 o Rio de Janeiro sediou o XXXVI Congresso Eucarístico Internacional. Dom Helder Camara, pensando no que poderia ser deixado de legado para o Rio, teve a ideia de criar um organismo que pudesse ser o apoio para tantos abandonados da cidade. Nasceu o conhecido Banco da Providência, que há 50 anos vem sendo lugar de atendimento para os mais pobres. Entre os dias 23 e 28 de julho do próximo ano, o Rio de Janeiro realizará mais um evento de grandes proporções, que congregará milhões de jovens: a Jornada Mundial da Juventude (JMJ Rio2013).


Preocupados com o risco permanente do mundo das drogas – no que diz respeito ao consumo e ao tráfico –, que vem atacando o coração da juventude brasileira, e atenta à pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisa de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) — que apontou ainda que o Brasil representa 20% do consumo mundial do crack e que a cocaína fumada (crack e oxi) já foi usada pelo menos uma vez por 2,6 milhões de brasileiros, sendo 150 mil adolescentes — a Igreja no Rio de Janeiro, assim como em 1955 após o XXXVI Congresso Eucarístico Internacional, quer deixar um legado social para a Cidade Maravilhosa.

De acordo com o Diretor Executivo do Setor Legado Social da JMJ Rio2013, Cônego Manuel Manangão, a proposta desta herança que a Jornada Mundial da Juventude pretende deixar abrangerá três dimensões:

— Na execução do trabalho, além dos educadores, que são pessoas treinadas para lidar com essa realidade da juventude ou da população de rua, teremos que ter também o apoio de centros onde haja médicos, psicólogos e psiquiatras que dêem um amparo, e ai é que eu digo que, por conta da JMJ Rio2013, nós teremos a possibilidade de dar uma maior visibilidade a essa situação. Primeiro, realizando um trabalho de prevenção, atuando em todos os ambientes; segundo, com uma rede de entidades, envolvendo as organizações da sociedade civil, que possam ser facilmente acessadas como apoio aos que se envolvem no uso de drogas e seus familiares; e, terceiro, com o fortalecimento e/ou criação de centros que possam acolher aqueles que precisarem de imediato atendimento. (...) Nesta perspectiva, teremos a família, a Pastoral da Juventude, a Catequese... Todos envolvidos nesse processo, tentando evitar que o jovem chegue à situação de dependência, explicou.


Segundo o Documento de Aparecida, “o problema da droga é como mancha de óleo que invade tudo. Não reconhece fronteiras, nem geográficas, nem humanas. Ataca igualmente países ricos e pobres, crianças, jovens, adultos e idosos, homens e mulheres. A Igreja não pode permanecer indiferente diante desse flagelo que está destruindo a humanidade, especialmente as novas gerações” (DA nº 422).

 — Diante da vida de tantos jovens que vão conhecendo a experiência do sofrimento, da solidão, do abandono, queremos ser a voz consoladora de Cristo para eles. Precisamos ser o Cirineu, que ajuda a suportar o peso da cruz de cada dia. Queremos ser o bom samaritano, que se aproxima e se coloca disponível para ajudar a encontrar O sentido da vida. Prevenir, acolher, recuperar para a vida: eis a nossa missão. A sociedade necessita do testemunho dos que, iluminados pela Palavra do Senhor, tornam-se sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo. Precisamos ser para eles, jovens e familiares, farol da esperança. Este será o nosso desafio e o nosso legado. Mãos à obra, concluiu Cônego Manangão.Ilustração do blog.Tadeu Araújo
Agência Brasil * Colaboração: Marcylene Capper  Rádio Catedral Raphael Freire

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CEPDQ - Coordenadoria de Prevenção à Dependência Química
da Prefeitura RJ_Tel.:(21) 2588-9058_Cel.:(21)9247-6153


Centros de Referência da Assistência Social
Centra Rio - destina-se a adolescentes, jovens e adultos dependentes químicos e familiares de dependentes.
Local: Rua Dona Mariana, 151 – Botafogo – Rio de Janeiro
Telefones: 2334-8107 / 2334-8108
Secretaria municipal de Assistência Social - para saber sobre os centros de atendimentos, o interessado deve ligar para a Ouvidoria – telefone (21) 3973-3800 –, que tem horário de atendimento das 9h às 18h

Grupos de Estudo e Tratamento do Alcoolismo e outras Dependências
Atende crianças e adolescentes
Local: Rua Jansem de Melo 174 - Universidade Federal Fluminense (UFF)
Telefone: (21) 2629-9605 – atendimento de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h

Confira abaixo onde ficam os centros de tratamento para dependentes químicos no município e no estado do Rio:

No município

No município, também existem outros centros de internação. No Rio Comprido, na Zona Norte, há um centro exclusivo para mulheres acima de 18 anos. Ao todo, são 78 vagas.
Os locais para quem quiser buscar tratamento de desintoxicação são os Centros de Referência da Assistência Social (CRAs) e os Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAs). Outras informações pelo telefone 3973-3800. 

Quem tiver dúvidas pode ligar para o telessaúde, no número 3523-4025.


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